Mais que um jogo

Hoje joga-se o Polónia-Rússia, curiosamente no dia nacional da Rússia. Um mau negócio para as forças de segurança. Este é o jogo mais perigoso deste Euro 2012, e o facto de se jogar neste dia, aquece ainda mais o ambiente.

O dia 12 não é um feriado muito sentido e festejado na Rússia, nasceu em 1992 para comemorar a primeira reunião da Assembleia Russa. Contudo é uma festa russa e os russos querem festejar em Varsóvia. Espera-se que perto de cinco mil adeptos russos façam uma marcha com cânticos provocadores desde a estação de comboios da capital polaca até ao Estádio Nacional de Varsóvia. Recorde-se que os hooligans russos já provocaram disturbios na primeira jornada do Euro, obrigando a federação do país dos czares a publicar um comunicado dizendo para os adeptos “não confundirem política com futebol”.

A história entre os dois países é muito longa e seriam precisas muitas horas para perceber a tensão que se vive. Rapidamente: na Polónia não se esquece que em 1939 os soviéticos se aliaram a Hitler para invadir o seu país. Não se esquecem que quando Hitler os atacou, toda a gente pensava impossível que Stalin se aliasse aos nazis e muitos polacos procuraram refúgio na União Soviética. Foi aí, que no bosque de Katyn, os soviéticos assassinaram mais de 15000 pessoas e que o negaram até 1990. Não se esquecem que o governo russo culpa os soviéticos deste facto histórico, mas que por outro lado apoia alguns historiadores que dão conferências relativizando este acontecimento. Também não se esquecem que em 1944 as tropas soviéticas chegaram ás margens do Vistula e, em vez de libertar a cidade, esperaram que os nazis matassem os resistentes polacos que esperavam que os soviéticos os ajudassem a a expulsar os alemães. Também não se esqueceram de mais de quatro décadas de comunismo e a perda de terras entregues á União Soviética. Lviv em 1939 tinha 60% de população polaca. 6 anos mais tarde apenas 0,8%.

Os mais nacionalistas e radicais polacos acreditam que os russos assassinaram o primeiro ministro polaco Lech Kaczynski em 2010! A história é sobejamente conhecida. Os dirigentes polacos iam a Katyn a uma cerimónia de homenagem aos falecidos em 1939. As investigações concluiram que o acidente foi provocado pela falta de preparação dos pilotos, mas esses mesmos nacionalistas continuam a manifestar-se ás portas da Casa Presidencial Polaca na rua Krakowskie Przedmiesci. Nessa mesma rua encontra-se o Hotel Bristol, curiosamente a residência oficial dos russos neste Euro 2012. Alguns partidos polacos acharam esta decisão da comitiva russa uma provocação e organizaram algumas manifestações no Estádio Nacional de Varsóvia. O estádio que fica ás margens do tal rio onde os soviéticos esperaram pelo massacre nazi.

O jogo de hoje perfila-se portanto como mais que futebol para os polacos. Os dirigentes da federação russa ainda homenagearam as vítimas de Kaytn, mas os adeptos não ajudam. Hoje muitos vão tirar do baú, gorros com a foice e o martelo, numa alusão aos polacos que não sabem distinguir russo de soviético. O general Budyonny, que participou na guerra soviético-polaca, acha que a situação é a mesma que “Se adeptos alemães usassem camisolas com referências nazis num jogo contra o APOEL Tel Aviv”.

O facto de os dois países terem bastantes problemas com o hooliganismo tampouco ajuda á festa. Para os polacos vencer hoje seria uma alegria enorme. Uma derrota suporia um autentico drama. Futebol e política continuam de mãos dadas.

1 comments on “Mais que um jogo

  1. Jornal Dez diz:

    […] Depois da rivalidade fora do campo protagonizada ontem por Rússia e Polónia, hoje é a vez de outra rivalidade histórica disputada inúmeras vezes dentro do terreno do jogo. Nada melhor que ler este texto de Hans van Breukelen (ex-jogador holandês) na Revista alemã 11Freunde. Toda uma declaração de amor, num momento em que a Maanschaft e a Orange parecem ter trocado os estilos entre si: […]

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